Biografia de António Fonseca
Desde muito novo, António Fonseca sentia o pulsar da música dentro de si, mesmo antes de saber dar nome àquilo que lhe fazia o coração bater mais forte sempre que ouvia uma voz ao longe ou uma guitarra a dedilhar acordes simples. A música era para ele um lugar secreto onde cabia a sua verdade e a sua forma de olhar o mundo, e foi nesse silêncio íntimo que começou a sonhar, ainda sem saber, com o dia em que poderia, ele mesmo, dar voz ao que lhe brotava por dentro.
Aos 23 anos, pegou pela primeira vez numa guitarra para aprender os acordes básicos, com a humildade de quem sabe que cada som é um passo para descobrir quem se é. Esse momento tardio, para muitos, foi para António um renascimento: cada acorde aprendido era como acender uma vela num caminho que se ia iluminando por dentro, revelando a força da sua paixão pelo canto e pela música em geral. Foi esse passo que lhe permitiu começar a juntar a música à sua voz, e a sua voz às palavras que lhe saíam do peito quando ninguém via.
Mais tarde, integrou o grupo de música tradicional portuguesa "Comtradições", onde a música deixou de ser apenas um lugar solitário e passou a ser partilha, encontro e celebração das raízes que o ligam à sua terra e à sua história. Nesse período, António ganhou fluidez na guitarra, explorou nuances na sua voz e aprendeu a sentir a música como um corpo vivo, onde cada instrumento, cada palma, cada harmonia, se tornava parte de um abraço colectivo.
Foi sempre autodidacta na guitarra, desafiando-se a cada dia, sem pressa, mas com uma persistência firme, quase teimosa, que transformava cada erro num degrau de aprendizagem. Foi essa mesma guitarra que o auxiliou a despertar o gosto pela escrita e pela composição, encontrando nas cordas o compasso para as palavras que se transformavam em melodias, em canções, em histórias. Para António, cada letra era um fragmento de vida, cada melodia um lugar seguro, e cada canção um acto de coragem e entrega.
Mas António Fonseca não ficou apenas pelas canções com letra: o seu amor pela música fê-lo também aventurar-se na composição de temas instrumentais, onde cada nota conta uma história sem precisar de palavras. Nessas composições, o silêncio e a música conversam entre si, deixando espaço para quem ouve encontrar-se dentro de cada melodia.
As raízes da música tradicional portuguesa são, para António, mais do que uma inspiração: são uma herança de afetos, de cheiros de terra molhada, de festas populares, de vozes antigas que ecoam nas memórias de infância. São essas raízes que alimentam alguns dos seus temas originais, que respiram a força do fado, a alegria de um vira, a melancolia doce de uma modinha, e a profundidade das paisagens do interior.
A música, para António Fonseca, é o lugar onde se encontra consigo mesmo, mas também o lugar onde encontra todos os outros. É ali, com a guitarra nos braços e a voz despida de artifícios, que António se torna verdadeiramente inteiro, mostrando ao mundo que a música, quando é vivida de forma genuína, tem o poder de tocar, de transformar e de unir quem a ouve.
Hoje, António continua o seu caminho na música com a mesma humildade com que começou, com o mesmo brilho nos olhos de quem sabe que cada canção é uma semente que se planta nos corações de quem a escuta. E é assim que António Fonseca quer permanecer: a cantar a vida, a escrever histórias em forma de canções, e a ser um mensageiro das raízes portuguesas que continuam a inspirar a sua voz e a sua música.